3ª Etapa da Variante Espiritual

A última etapa começa de forma única: pelo mar. A travessia em barco segue o percurso lendário da Traslatio — a viagem que, segundo a tradição, trouxe os restos do apóstolo Santiago desde Jerusalém até Iria Flavia. É um momento simbólico e especial do Caminho, onde peregrinos descrevem sentir “um arrepio de história viva” ao navegar o único trecho marítimo fluvial de todo o Caminho de Santiago. Durante o percurso, além da paisagem da ría de Arousa, avistam-se cruzeiros de pedra que marcam o itinerário da Traslatio, também chamados de Via Crucis marítimo-fluvial.

No decorrer da navegação, ergue-se à vista a pequena Igreja de San Miguel de Catoira, situada perto da margem. É um ponto de referência marcante, que lembra a importância histórica desta zona estratégica na entrada do Ulla.

Logo depois, surgem em destaque as ruínas das Torres de Oeste, antiga fortificação defensiva contra as invasões viquingues. Do barco é possível admirar as muralhas e imaginar a época em que protegiam a ria. Muitos peregrinos relatam este momento como um dos mais memoráveis da Traslatio, pela carga histórica e pelo enquadramento paisagístico.

Ao terminar a viagem de barco em Pontecesures, retoma-se o Caminho a pé. Atravessar a ponte romana que liga Pontecesures a Padrón é entrar novamente na rota terrestre, seguindo as pegadas de séculos de peregrinos. A ponte, remodelada em época medieval, mantém o traçado que une as duas margens do Ulla.

O destino da etapa é Padrón, onde a tradição situa a primeira pregação do apóstolo na Península Ibérica e o local onde a barca com o seu corpo foi amarrada a um “pedrón” (grande pedra ainda hoje guardada na igreja). A Igreja de Santiago de Padrón acolhe este símbolo e marca a ligação direta entre a Traslatio e a chegada dos peregrinos. A vila, animada e com forte ambiente jacobeu, é o lugar perfeito para descansar antes da reta final até Santiago de Compostela.