A Paula é uma peregrina que vive o Caminho de Santiago. Por isso, já fez várias variações do nosso percurso favorito. Nesta entrevista, vais encontrar mais informações sobre os quilómetros que se podem fazer por etapa, refeições a não perder e muitas aventuras para te fazer ao trecho! Lê esta entrevista até ao fim!
1. Por que fizeste o caminho de Santiago?
Fiz e faço o Caminho de Santiago em busca de vivências, experiências, encontros comigo própria. É difícil explicar os motivos que me levam ao Caminho, porque o Caminho não se explica, faz-se, vive-se, sente-se.
2. Já fiz vários Caminhos vou falar de alguns:
O Caminho Português Central a sair de Lisboa 24 dias; o Caminho Português da Costa, a sair do Porto pela variante Espiritual 13 dias; o Caminho Português do Interior 17 dias, mas o mais longo que fiz foi a Via da Prata a sair de Sevilha 33 dias.
Também muitos outros como o Francês, Salvador, Primitivo, etc.
3. Que etapas fizeste?
Fiz etapas de 25 quilómetros, etapas de 30 quilómetros e até etapas de 48 quilómetros: aqui depende sempre dos dias de férias que tenho.
4. Qual foi a melhor refeição do caminho?
Para mim a melhor refeição é sempre aquela que posso cozinhar, um pouco de esparguete, queijo, verduras e como a melhor refeição de sempre. Quando isso não é possível, o polvo à galega é uma das refeições que mais gosto.
5. E onde se come o melhor polvo à galega no Caminho de Santiago?
Na minha opinião o melhor polvo encontra-se em Melide, na Pulperia Ezequiel ou na Pulperia A Garnacha.
6. Como te preparaste fisicamente para o caminho?
A melhor preparação que faço para o Caminho são as várias caminhadas que faço ao longo do ano.
7. O que te deixou mais surpreendida no trajeto?
O que me surpreende mais no Caminho são os bosques. Verdadeiras catedrais da natureza, a história cultural que cada Caminho tem para nos mostrar e os peregrinos que vou conhecendo ao longo de cada etapa, pois neles encontro generosidade, humildade é uma conexão, que não se explica.
8. Qual foi o momento mais difícil?
Uma das situações que mais me marcou num Caminho, foi um dia em que tinha 30 quilómetros para fazer e aos 13 quilómetros estava completamente estoirada fisicamente e só pensava como poderia acabar aquela etapa se não tinha forças para dar mais um passo, nisto visualizo uma Capela no Caminho e entrei. Lembro-me que caí aos pés de Santiago, chorei, ralhei, ali deixei toda a minha dor e quando saí, não sei explicar, fiz os 17 quilómetros que faltavam e se houvesse mais para fazer, mais faria. Os meus amigos olhavam para mim e não compreendiam onde tinha ido buscar aquela força, pois tinham me visto muito mal. Eu compreendi de imediato foi Santiago, há-que entregar, há que confiar.
9. Quem é que conheceste no caminho que nunca vais esquecer?
Têm sido muitos os peregrinos que tenho conhecido ao longo do Caminho que nunca mais vou esquecer. Lembro-me de um italiano que fazia o Caminho pela irmã que estava com problemas e que por muito que estivesse sem pele nos pés continuava a caminhar. Um casal que veio fazer a lua de mel no Caminho em vez de ir para uma praia. Uma jovem que fazia o Caminho pois tinha perdido muitos familiares nos fogos de Pedrogão. Foram muitas.
10. Podes falar-nos de algum episódio que te tenha marcado com as pessoas que referiste?
Com o casal que estava em Lua de Mel, houve uma situação muito marcante que foi a seguinte: durante o percurso estivemos alguns dias sem nos vermos e já pensava que não os ia encontrar mais e, um dia, numa longa estrada oiço o meu nome e quando me volto para trás vejo que são eles que corriam ao meu encontro. Pode parecer uma situação simples, mas a mim marcou-me muito pois são estes laços muito fortes que se criam entre peregrinos que ficam para toda a vida.
11. O que não pode faltar na mala de um peregrino?
Há várias coisas que não podem faltar na mala de um peregrino: água e frutos secos são o principal.
12. Se só pudesses dar uma dica às pessoas que estão a pensar fazer o caminho, qual seria?
Uma dica: Vai não tenhas medo, confia
13. Qual foi a tua reação quando chegaste a Santiago?
É sempre difícil explicar por palavras qual a minha reação quando chego ao Obradoiro, mas vou tentar. Há muitos sentimentos que se apoderam de mim, paz, serenidade, alegria, um turbilhão de sentimentos, mas ao mesmo tempo uma grande nostalgia por ter terminado, e logo logo penso em voltar. Porque é em Santiago que o meu cântaro fica cheio, é o abraço de Santiago que sacia minha sede.