A Maria é uma peregrina que descobriu o Caminho em leituras. Naturalmente, a curiosidade fez com que metesse “os pés ao percurso” e hoje podes ler essa aventura nesta entrevista! Deixa-te inspirar por esta travessia!
- Por que fizeste o caminho de Santiago?
A primeira vez que li sobre o caminho, foi num livro de Paulo Coelho. E fiquei com curiosidade. Ainda que a “prometida” manifestação mística fosse interessante, a verdade é que meti pés ao ao caminho porque era uma aventura e uma forma económica de viajar e “esquecer o mundo lá fora”. Ou seja, tinha vontade, tempo e dinheiro ☺.
Fui escuteira. Andar de mochila às costas no meio dos bosques, não é novidade. Andar sozinha em qualquer lado, também não. A idade, 55 anos, não me assustava
- Quantos dias demoraste?
Demorei 11 dias. Saí de Barcelos no dia 28 de Setembro e cheguei no dia 08 de Outubro
- Que etapas fizeste?
De Barcelos a Vitorino de Piães, a Labruja, a Paços (Valença) , a Tui, a O Porrino, a Pontesampaio, a Portela, a Caldas de Reys, a Pontecessures, a Padron, a Milladoiro, a Santiago. As últimas 4 etapas seriam 2, mas uma lesão no tendão de aquiles, fintou a previsão.
- Qual foi a melhor refeição do caminho?
O primeiro jantar. Na Casa da Fernanda. Foi a primeira refeição coletiva. E a primeira vez que senti o sentido do que estava a fazer.
- Como te preparaste fisicamente para o caminho?
Não preparei. Tinha apenas a vontade. Faço caminhadas com regularidade, fico sempre com dores, mas passam.
- O que te deixou mais surpreendida no trajeto?
Os sítios lindíssimos por onde passei e que de outra forma dificilmente conheceria. Sobretudo até Valença. E depois, já em Espanha, o cheiro da hortelã pimenta que existe ao longo do caminho e que inundava o ar.
- Qual foi o momento mais difícil?
Foi a manhã em que quis andar e não consegui fazê-lo sem dor. E, daí para a frente, começar o dia era sempre uma prova de superação. Depois começava a rezar e passada uma hora já doía menos, porque entretanto já tinha os tornozelos quentes.
- Quem é que conheceste no caminho que nunca vais esquecer?
Sem dúvida nenhuma, os 5 peregrinos cuja companhia fui somando à minha caminhada solitária. A Sari, das Canárias, depois o Manu e a Diana, de Leiria e de Porto Rico e, por fim, a Jessica da Bolívia e o Javier de Oviedo. Vamos ficar juntos no coração até sermos velhinhos.
- Tens algum episódio com estas pessoas que queiras partilhar?
Ahhh…sim… o Javier…o Javier foi fazer o Caminho com pelo menos 1,5 quilogramas de roupa para a chuva. Volta e meia desaparecia e aparecia com outra roupa.. Andava sempre com quase 2 quilogramas de fruta.. Claro que às tantas andávamos todos com alguma coisa do Javier..
Mas o momento alto foi sem dúvida a despedida. Ainda me emociono quando me lembro. De alguma forma deixamos todos um pouco de nós em todos os outros.
- O que não pode faltar na mala de um peregrino?
Vaselina e pensos para as bolhas, sem margem de dúvidas.
- Se só pudesses dar uma dica às pessoas que estão a pensar fazer o caminho, qual seria?
Queiram. O resto acontece. Se puderem ir sem pressa, melhor. O vosso corpo dirá quando e onde devem descansar.
- Qual foi a tua reação quando chegaste a Santiago?
Uma tremenda sensação de vazio. Foi quando percebi o que se costuma dizer: o importante não é a chegada. É o Caminho.