É seguro fazer o Caminho sozinho/a?

Esta é uma das perguntas mais feitas, no nosso grupo: “É seguro fazer o Caminho de Santiago sozinho?” Por isso, fomos falar com 3 pessoas que passaram por esta experiência, para nos dizerem qual a sua opinião.

Fazer o Caminho de Santiago sozinho ou não? Hoje, quem escreve o artigo são os peregrinos. Perguntámos a várias pessoas o que sentiram ao aventurarem-se sozinhas pelos trilhos de Santiago. Estas são as respostas da Cláudia, do Pedro e do Bruno.

Cláudia Ferreira: Sentiste algum tipo de insegurança, ao longo do Caminho de Santiago, por estares sozinha? 

De um modo geral, não. Ao longo de todo o caminho, tirando uma ou outra exceção, em sítios mais isolados, senti-me sempre super segura.
Acho que o mais importante é irmos com o espírito certo. Sou da opinião de que coisas más atraem coisas más e vice-versa e esse foi sempre o meu primeiro pensamento.


Acho importante falar deste ponto, principalmente, sendo mulher. Vejo muito esta questão colocada por mulheres que até gostariam de fazer o Caminho sozinhas, mas que se privam, por terem medo da insegurança, ao longo do mesmo. Ora, insegurança há em todo o lado, basta sair da cama. Pode ser um pensamento um tanto radical, mas sou da opinião de que devemos ir, mesmo com medo. E ter receio é bom! Mantém-nos alerta e permite-nos absorver e viver as coisas de outra forma.

Quando disse a toda a gente que ia fazer o Caminho sozinha, todos me torceram o nariz, até, ao ponto de me chamarem louca. Não tive nenhuma razão específica para o fazer assim, simplesmente, era algo que queria muito fazer e, por isso, não esperei por ninguém, fui, simplesmente, e fui assim, porque era o que me fazia sentido na altura.

Não vou mentir que, em certas zonas mais isoladas, olhava por cima do ombro, porque, evidentemente, seriam sítios mais propícios a que algo pior pudesse acontecer. Apenas tive uma situação em que tive mesmo receio. Num desses sítios mais isolados, uma pequena floresta onde seria estranho andar uma pessoa, aparentemente, dita “normal” e onde me deparei com um senhor com um ar algo suspeito, que passou por mim. Cumprimentei-o e segui. Mas o meu instinto disse-me que algo não estava bem e, por isso, olhei por cima do ombro e este estava, simplesmente, parado a olhar para mim. Acelerei o passo e agarrei muito bem o meu bastão, não fosse precisar dele ahah.

Mas confiei sempre muito em mim, no meu “desenrascanço” e capacidade de defesa e, sobretudo, confiei muito no Caminho. Quando nos dizem que, mesmo indo sozinhos, nunca o estamos, essa é a mais pura das verdades. Entram e saem pessoas ao longo do trajeto que nos vêm trazer exatamente o que precisamos, naquele momento. E, na minha opinião, isso é o que é o Caminho e o que faz sentido ser. Conhecemos pessoas, seguimos etapas com elas, meio acompanhados, meio sozinhos, e eu acho que essa é a magia de fazer o Caminho sozinho: há espaço para tudo e para vivenciar cada parte desta jornada das mais diversas formas.

Pedro Miguel Martins: Foi seguro fazer o caminho de Santiago sozinho? 

Fazer o caminho de Santiago sozinho foi seguríssimo.
Iniciei o caminho sozinho, sem planeamento de etapas ou de locais onde pernoitar e comer, à exceção da véspera de iniciar o caminho, onde reservei dormida, na cidade do 
Porto.

Fiz o caminho em fevereiro (2022), considerada época baixa, o que, por si só, quer dizer que há poucos caminheiros.
No entanto, fui encontrando, ao longo do meu caminho, tanto em Portugal como em Espanha, habitantes e alguns caminheiros com quem ia trocando impressões, conversando e, ao final do dia, nos albergues, existiam alguns caminheiros com quem me cruzei vários dias.

De referir que, ao contrário de Portugal, onde, no caminho, não existia nem PSP nem GNR, em Espanha, a Guardia Civil estava presente com uma patrulha e uma carrinha de apoio, quer para informações, quer somente para trocar dois dedos de conversa ou tirar uma fotografia. Por sinal, a patrulha da Guardia Civil era muito simpática e hospitaleira, e estando presente (cruzei-me com eles vários dias).

Nunca, ao longo de dez dias de caminhada, corri qualquer perigo, mas saliento a importância, de, em território nacional, existir, ao longo do caminho, forças de autoridade para dar ainda maior segurança aos caminheiros.

Bruno Cardoso Durante: No Caminho de Santiago, sentiste algum tipo de receio, ao longo do percurso, por estares sozinho?

Na verdade, não, até porque acabei por não ficar sozinho.

Propus-me fazer esta aventura sozinho, mas, logo no segundo dia, numa das pausas para água e descanso, comecei à conversa com um grupo de pessoas que estavam a fazer o mesmo.
Desde então, foram companheiros de viagem e chegamos juntos ao destino.
Pelo que sei, é bastante frequente encontrar, pelo caminho, pessoas ou grupos que estão sozinhos e daí fazer um grupo maior. Para mim, foi um dos aspetos mais interessantes da viagem.
A única coisa que recordo de me fazer sentir algum receio (mas não medo), era o facto de não conseguir arranjar dormida com facilidade. Fui marcando, dia a dia, os sítios onde ia dormir e nem sempre foi fácil.

Acho que é difícil sentir medo, uma vez que o caminho está cheio de pessoas que nos podem sempre ajudar ou facilitar alguma coisa. Claro que depende sempre da altura do ano em que se faz a caminhada… Fiz no final de setembro, acredito que, nos meses de Inverno, possa, realmente, fazer diferença e, aí sim, aparecerem alguns receios, quer pelo clima, quer pelos dias mais curtos, quer pela menor quantidade de pessoas que vamos encontrando no caminho.

É seguro fazer o caminho de Santiago sem companhia?

Todas as experiências são diferentes. Mas estes caminheiros estão confortáveis para fazer o percurso sozinhos. Muitos começam a sós, como o Bruno, no entanto, arranjam companhia, pelo caminho. Já outros, apesar de algum receio, continuaram o seu trajeto. E tu, já fizeste o Caminho de Santiago? Fala connosco!

8 Responses
  1. Celso Euzébio de Oliveira

    Fiz o caminho francês em 2017 e o caminho português central em 2019. Em nenhum momento dessas duas peregrinações me senti inseguro, pois manter o pensamento elevado nos dá uma sensação maior de confiança. Também o fato de que somos constantemente saudados por outros peregrinos ao longo do caminho. Quando caminhamos um longo trecho sozinhos, sem companhia, somos tomados por forte emoção e gratidão pela paz que desfrutamos em comunhão com a natureza. Não há o que temer.

  2. Celso Euzébio de Oliveira

    Fiz o caminho francês em 2017 e o caminho português central em 2019. Em nenhum momento dessas duas peregrinações me senti inseguro, pois manter o pensamento elevado nos dá uma sensação maior de confiança. Também o fato de que somos constantemente saudados por outros peregrinos ao longo do caminho. Quando caminhamos um longo trecho sozinhos, sem companhia, somos tomados por forte emoção e gratidão pela paz que desfrutamos em comunhão com a natureza. Não há o que temer!

  3. Manuel Ramirez

    Em Setembro quero fazer o caminho de Bike a partir de Faro, gostava de encontrar companhia com os mesmos ideais, condições físicas, econômicas e mentais. Caso interesse é favor contatar
    para organizar, planear e treinar a tempo. Saudações amigas !!!!!

  4. Já o fiz varias vezes sozinho e nunca tive qualquer receio acerca da segurança penso que ai encontramos a verdadeira a magia do Caminho, embora tenha sempre começado sozinho sempre cheguei acompanhado a Santiago. A vertente de fazer “sozinho” leva-nos a outra dimensão é um momento de introspecção, silencio interno e também o momento de escutarmos a natureza que nos envolve. O fazer sozinho também deixa-nos fora da nossa área de conforto mas abertos ao diálogo com quem por algum momento nos acompanha e compartilha o Caminho com suas e nossas historias e com laços de amizades duradouras.

  5. Pedro Teixeira

    Fiz o caminho Português com o meu primo e houve um dia ainda noite que íamos entrar por um caminho sem luz e vinha de lá uma peregrina assustada, e parou junto de nós e perguntou se aquele era o caminho para Santiago. Onde respondemos que sim, então veio connosco até ficar dia, depois parou para descansar e nós seguimos, como já era bem de dia ficámos com a certeza que ficava bem.

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