Esta é uma das perguntas mais feitas no nosso grupo: “É seguro fazer o Caminho de Santiago sozinho?” Por isso fomos falar com um conjunto de pessoas que passaram por esta experiência para nos dizerem qual a sua opinião.

Fazer o Caminho de Santiago sozinho ou não? Hoje quem escreve o artigo são os peregrinos. Perguntámos a várias pessoas o que sentiram ao aventurarem-se sozinhas pelos trilhos de Santiago. Estas são as respostas da Claúdia do Pedro e do Bruno.

Cláudia Ferreira: Sentiste algum tipo de insegurança ao longo do Caminho de Santiago, por estares sozinha?
De um modo geral, não. Ao longo de todo o caminho, tirando uma ou outra excepção em sítios mais isolados, senti-me sempre super segura.
Acho que o mais importante é irmos com o espírito certo. Sou da opinião que coisas más atraem coisas más e vice-versa, e esse foi sempre o meu primeiro pensamento.
Acho importante falar deste ponto, principalmente sendo mulher. Vejo muito esta questão colocada por mulheres que até gostariam de fazer o Caminho sozinhas, mas que se privam por terem medo da insegurança ao longo do mesmo. Ora insegurança há em todo o lado, basta sair da cama. Pode ser um pensamento um tanto radical, mas sou da opinião que devemos ir, mesmo com medo. E ter receio é bom! Mantém-nos alerta e permite-nos absorver e viver as coisas de outra forma.
Quando disse a toda a gente que ia fazer o Caminho sozinha todos me torceram o nariz até ao ponto de me chamarem louca. Não tive nenhuma razão específica para o fazer assim, simplesmente, era algo que queria muito fazer e por isso não esperei por ninguém, fui, simplesmente, e fui assim porque era o que me fazia sentido na altura.
Não vou mentir que em certas zonas mais isoladas olhava por cima do ombro, porque evidentemente, seriam sítios mais propícios a que algo de pior pudesse acontecer. Apenas tive uma situação em que tive mesmo receio, num desses sítios mais isolados, uma pequena floresta onde seria estranho andar uma pessoa aparentemente dita “normal” e onde me deparei com um senhor com um ar algo suspeito, que passou por mim, cumprimentei-o e segui. Mas o meu instinto disse-me que algo não estava bem e por isso olhei por cima do ombro e este estava simplesmente parado a olhar para mim. Acelerei o passo e agarrei muito bem o meu bastão, não fosse precisar dele ahah.
Mas confiei sempre muito em mim, no meu “desenrascanço” e capacidade de defesa, e sobretudo confiei muito no Caminho. Quando nos dizem que mesmo indo sozinhos, nunca o estamos, essa é a mais pura das verdades. Entram e saem pessoas ao longo do trajeto que nos vêm trazer exatamente o que precisamos naquele momento. E na minha opinião, isso é o que é o Caminho e o que faz sentido ser. Conhecemos pessoas, seguimos etapas com elas, meio acompanhados, meio sozinhos, e eu acho que essa é a magia de fazer o Caminho sozinho: há espaço para tudo e para vivenciar cada parte desta jornada das mais diversas formas.

Pedro Miguel Martins: Foi seguro fazer o caminho de Santiago sozinho?
Fazer o caminho de Santiago sozinho foi seguríssimo.
Iniciei o caminho sozinho, sem planeamento de etapas ou locais onde pernoitar e comer, à excepção da véspera de iniciar o caminho, onde reservei dormida na cidade do Porto.
Fiz o caminho em fevereiro (2022), considerada época baixa, o que por si só quer dizer que há poucos caminheiros.
No entanto fui encontrando ao longo do meu caminho, tanto em Portugal como em Espanha, habitantes e alguns caminheiros com quem ia trocando impressões, conversando e ao final do dia nos albergues existiam alguns caminheiros com quem me cruzei vários dias.
De referir que ao contrário de Portugal onde no caminho não existia nem PSP nem GNR, em Espanha a Guardia Civil estava presente com uma patrulha e uma carrinha de apoio, quer para informações, quer somente para trocar dois dedos de conversa ou tirar uma fotografia. Por sinal a patrulha da Guardia Civil era muito simpática e hospitaleira, e estando presente (cruzei-me com eles vários dias).
Nunca ao longo de dez dias de caminhada corri qualquer perigo, mas saliento a importância de em território nacional existir ao longo do caminho forças de autoridade para dar ainda maior segurança aos caminheiros.

Bruno Cardoso Durante: No Caminho de Santiago, sentiste algum tipo de receio ao longo do percurso por estares sozinho?
Na verdade não, até porque acabei por não ficar sozinho.
Propus-me fazer esta aventura sozinho mas logo no segundo dia, numa das pausas para água e descansar, comecei à conversa com um grupo de pessoas que estavam a fazer o mesmo.
Desde então, foram companheiros de viagem e chegamos juntos ao destino.
Pelo que sei, é bastante frequente encontrar pelo caminho pessoas ou grupos que estão sozinhos e daí fazer um grupo maior. Para mim, foi um dos aspectos mais interessantes da viagem.
A única coisa que recordo de me fazer sentir algum receio (mas não medo), era o facto de não conseguir arranjar dormida com facilidade. Fui marcando dia a dia os sítios onde ia dormir e nem sempre foi fácil.
Acho que é difícil sentir medo, uma vez que o caminho está cheio de pessoas que nos podem sempre ajudar ou facilitar alguma coisa. Claro que depende sempre da altura do ano em que se faz a caminhada…Fiz no final de Setembro, acredito que nos meses de Inverno possa realmente fazer diferença e aí sim aparecerem alguns receios, quer pelo clima, quer pelos dias mais curtos, quer pela menor quantidade de pessoas que vamos encontrando no caminho.
É seguro fazer o caminho de Santiago sem companhia?
Todas as experiências são diferentes. Mas estes caminheiros estão confortáveis para fazer o percurso sozinhos. Muitos começam a sós, como o Bruno, no entanto arranjam companhia pelo caminho. Já outros, apesar de algum receio, continuaram o seu trajeto. E tu, já fizeste o Caminho de Santiago? Fala connosco!
Gostava de ir agora em maio mas não marquei Ainda Nada!!! Onde março … albergues pelo caminho?!?
Fiz o caminho francês em 2017 e o caminho português central em 2019. Em nenhum momento dessas duas peregrinações me senti inseguro, pois manter o pensamento elevado nos dá uma sensação maior de confiança. Também o fato de que somos constantemente saudados por outros peregrinos ao longo do caminho. Quando caminhamos um longo trecho sozinhos, sem companhia, somos tomados por forte emoção e gratidão pela paz que desfrutamos em comunhão com a natureza. Não há o que temer.
Fiz o caminho francês em 2017 e o caminho português central em 2019. Em nenhum momento dessas duas peregrinações me senti inseguro, pois manter o pensamento elevado nos dá uma sensação maior de confiança. Também o fato de que somos constantemente saudados por outros peregrinos ao longo do caminho. Quando caminhamos um longo trecho sozinhos, sem companhia, somos tomados por forte emoção e gratidão pela paz que desfrutamos em comunhão com a natureza. Não há o que temer!