“A Caminho” com a Desirrê


O Caminho não se faz. Vive-se.

Foi com esta certeza que Desirrê partiu sozinha de Valença do Minho rumo a Santiago e depois a Finisterre. Em 10 dias e 232 km, viveu uma jornada de superação, fé, dor, cura e reencontro consigo mesma.

A cada etapa, uma descoberta. A cada desafio, uma transformação. Do chinelo improvisado ao milagre inesperado, do prato com sabor a vitória ao silêncio que revelou o essencial, encontrou no Caminho muito mais do que paisagens de tirar o fôlego. Encontrou força, leveza e orgulho.


Nesta entrevista, partilha connosco os momentos que a marcaram, as aprendizagens que leva para a vida e a certeza de que o Caminho não termina no km 0, ele começa dentro de nós.

1. O que te motivou a fazer o Caminho?
Eu queria ter a sensação de liberdade de colocar uma mochila nas costas e sair por aí andando sem me preocupar com as coisas do cotidiano. Queria ter o prazer de viver no meu tempo, pensar só em mim, de reconectar comigo e com a natureza e alcançar o meu propósito que era chegar em Santiago e depois em Finisterre.

2. Quanto tempo passou entre decidires e começares o Caminho?
Sentir vontade de fazer o caminho em 2023 mais o meu trabalho não me permitia fazer. Então em 2025 mudei de emprego e o desejo de fazer o caminho foi crescendo no meu coração Então me dei de presente o Caminho Santiago.

3. Que caminho escolheste e porquê?
Comecei em Valença do Minho e deixei as setas do caminho me levarem e fiz o caminho central.

4. Quantos dias demoraste?
6 dias de Valença do Minho a Santiago de Compostela e 4 dias de Santiago de Compostela a Finisterre 10 dias no total 232km.

5. Que etapas fizeste e quais foram as mais marcantes?
1 Valença a Porriño
2 Porriño a Redondela
3 Redondela a Pontevedra
4 Pontevedra a Caldas de Reis
5 Caldas de Reis a Padron
6 Padron a Santiago
7 Santiago a Negreira
8 Negreira a Olveiroa
9 Olveiroa a Muxia
10 Muxia a Finisterre

1 foi o dia mais desafiador. A sapatilha machucou os meus pés e por esse motivo tive que fazer todo percurso de chinelo havaianas.
2 foi tranquilo estava me adaptando ao caminho.
3 foi cansativo mais prazeroso.
4 foi o dia em que eu ganhei o melhor presente da minha vida. Águas termais para meus pés. Sentir um alívio tão grande.
5 foi o dia em que eu tive a melhor experiência da minha vida. Sentir a presença de Deus e a natureza de uma forma muito especial, nesse dia Deus me curou de TODAS as minha dores. Foi literalmente um milagre. E entendi que a mesma mão que criou a natureza me criou também. E a natureza é literalmente abundante e eu sou parte da natureza, então a minha vida é tão abundante quanto a natureza. Me enchi de prazer de viver.
6 cheguei em Santiago com um orgulho de mim tão grande que transbordava no meu peito.
7 andei por muitos kilometros sozinha. Foi muito desafiador, mais entendi que o medo só estava na minha cabeça.
8 foi a distância mais longa que percorri. Pensei por várias vezes que não ia conseguir chegar no meu destino. E ao fim cheguei e o meu troféu foi um prato de comida muito saboroso que já queria comer a muito tempo. Foi a comida mais saborosa que comi nos últimos anos, porque tinha sabor de VITÓRIA.
9 Fiz grande parte do percurso sozinha e entendi que o caminho não era externo e sim interno. Percorri caminhos internos que nunca imaginei percorrer. E foi incrível.
10 foi um dia de reencontrar com pessoas que conheci pelo caminho, foi um dia de muita alegria, alívio, esperança, orgulho, satisfação. Eu estava literalmente feliz mais ao mesmo tempo triste porque sabia que estava perto do fim. Foi uma mistura de sentimentos. Chegar no km000 foi a melhor sensação da minha vida. Tive consciência do quanto eu fui forte,determinada,resiliênte.me transbordei em lágrimas, nunca havia sentido tanto orgulho de mim com nesses 10 dias de caminhada. Estava me sentindo completa. Porque sabia que o caminho Santiago havia acabado mais ali naquele exato momento renascia uma nova Daisireux pra viver uma nova vida.
Foi incrível!

6. Como te preparaste física e mentalmente para o Caminho?
Fazia algumas caminhadas, mais não era constante. Mais me preparei muito mentalmente. Criando muitas expectativas em relação ao caminho. Mais sempre colocando em mente que certamente não seria fácil. Desejei tanto esse caminho. Primeiro… porque nunca conheci ninguém que se arrependeu de fazer o caminho. Segundo… eu sabia que ia ser um caminho de reencontro comigo, com o meu ser, com a minha alma. E estava completamente aberta pra viver essa experiência apesar das dificuldades.

7. Fizeste o Caminho sozinho ou acompanhado? Se acompanhado, com quem?
Fiz sozinha o foi a melhor escolha que fiz… fazer o caminho sozinha.

8. Qual foi o momento mais desafiante?
O primeiro dia porque a sapatilha machucou o meus 2 pés. E no dia seguinte eu tinha 2 opções…. 1 desistir do caminho 2 caminhar de chinelo havaianas. Decidir optar por não desistir do caminho e seguir de chinelo o resto do percurso.

9. Houve algo que te surpreendeu durante o caminho?
Sim. Eu sinto muitas dores na coluna desde a infância tenho escoliose. No 5 dia eu pensei por varias vezes em não sair pra caminhar porque estava com muitas dores. Afinal sair com medo de não aguentar caminhar até o meu destino. E o que parecia impossível aconteceu…Deus CUROU todas as minhas dores. Eu sentir que por mais que eu estivesse com uma mochila pesada, eu nunca sentir a minha vida e a minha alma tão leve. Deus estava naquela natureza. Foi uma experiência inesquecível. Foi um MILAGRE literalmente. Mais todos os dias foram MUITO especiais de formas muito diferentes. As paisagens são de tirar o fôlego, os peregrinos tem almas especiais, o caminho é único. Eu aprendi que a gente não faz o caminho Santiago! A gente VIVE o caminho Santiago! Porque esse caminho é transformador.


10. Qual foi a melhor refeição que tiveste no caminho?
Foi em Olveiroa, foi um prato de arroz e frango assado. Por um acaso esse dia foi a maior distância que percorri e por um acaso estava muito cansada. E aquele prato de comida era muito simples mais estava tão saboroso que não sei explicar. Tinha sabor de vitória. Fui até a cozinha para agradecer a cozinheira por aquela comida tão saborosa que sentir como um abraço na alma. Foi muito especial aquele sabor.

11. Onde encontraste a melhor estadia ao longo do percurso?
Em Pontevedra Bulezen Hurban Hostel Mais eu fui bem recebida em todos os lugares por onde passei.

12. Conheceste alguém que te marcou?
Todas as pessoas que conheci foram muito especiais e me marcaram de alguma forma. Todas levaram um pouco de mim e deixaram um pouco de se. Foram trocas incríveis. Me sentir abraçada, cuidada, inspirada. Ouvir as histórias as pessoas que encontrei me enriqueceu e me motivou muito. Foi incrível.

13. O que não pode faltar na mochila de um peregrino?
Medicamentos pras dores Curativos pros pés Água Roupas confortáveis Kit de higiene pessoal

14. Como te sentiste ao chegar a Santiago?
O sentimento que transborda no meu coração até hoje é o sentimento de orgulho. Todos os dias no fim do dia eu sentia a sensação de ter ganhado um campeonato e passei 10 dias com a sensação de que todos os dias eu havia colocado uma medalha no peito. Olhar pros lugares e pensar… EU ME TROUXE AQUI ! acho que não tem palavras pra descrever esse sentimento. Mais eu entendi e sentir. Que chegar na Catedral e ao Km0.000 não é a parte mais importante. A Catedral e como um pote de ouro no fim do arco-íris. Não importa o ouro o que importa é o quanto o caminho até lá te transformou, te mudou pra melhor, todos os desafios que te fortaleceram, todas as barreiras e muros que rompemos, todas as cicatrizes, todas as dores e alegrias que sentiu. O fim não importa o que realmente importa é o quanto você está disposto a aprender com o PROCESSO. E o processo do caminho Santiago é inexplicável e inesquecível.

15. Tens alguma música que marque o teu caminho para acrescentarmos à nossa playlist?
Deus me proteja (Chico César) https://youtu.be/E79ZV7rLeeA?si=lqNutPiPYRjCmsJd

16. Se só pudesses dar uma dica às pessoas que estão a pensar fazer o caminho, qual seria?
Primeiro… O medo só está na sua cabeça, ele não real. Não deixa o medo te paralizar. Segundo…Tênis bom para o caminho é aquele que o seu pé está habituado. Aquele que você se sente mais confortável. Não importa a marca . Prese pelo seu conforto. Afinal são seus pés que vão te levar até o seu destino final. Então priorize o seu conforto.

17. Houve alguma aprendizagem ou mudança pessoal que tenha resultado da experiência?
Tudo mudou durante e depois do caminho Santiago,todos os do caminho é dia de aprendizado. E são aprendizados que são pra vida toda. Eu aprendi milhares de coisas . Porque quando você está no caminho você passar a ver a vida por outro ângulo. Foram tantos aprendizados que voltei pra casa com a alma transbordando de alegria e muito mais leve pra viver a minha vida.

18. Após completares o Caminho, sentes que a experiência correspondeu às tuas expectativas iniciais? De que maneira?
O caminho Santiago superou todas as minhas expectativas. Não existiu um dia em que eu me arrependesse de sair pra caminhar. O caminho me surpreendeu de todas as formas possíveis. A natureza é incrível as paisagens são de tirar o fôlego, os peregrinos são anjos e acabam virando uma grande família no caminho, eu me sentir completamente abraçada e cuidada com aquela concha pendurada na minha mochila. A sensação que eu tive é que quando as pessoas veem aquela concha o carinho, admiração e o cuidado vem em dobro e que a frase BOM CAMINHO faz todo sentido quando estamos no caminho. Ela sempre vem nos momentos mais difíceis do caminho, soa como um acalento pra alma o coração fica quentinho quando você escuta a frase BOM CAMINHO. ela vem como um sopro de esperança pro coração. Quase como Deus sussurrando no nosso ouvido… Vai você consegue, você é mais forte do que você pensa. Segue! Eu durmo e acordo pensando no caminho. As vezes fecho os olhos e sinto o cheiro dos lugares por onde passei. Olho pras pessoas na rua e me lembro do sorriso sereno de TODOS os peregrinos. As vezes estou trabalhando e esculto a frase BOM CAMINHO Como se Deus estivesse me dizendo vai filha você consegue. Você é mais forte do que pensa, segue. As paisagens do caminho são como presentes, recompensas pelo seu esforço e determinação. Fecho os olhos e lembro do alto das montanhas que o caminho me levou e do cuidado de Deus comigo pra eu conseguir chegar lá sozinha e quantos peregrinos/anjos que Deus enviou pra me dizer BOM CAMINHO nos momentos mais difíceis. Estou escrevendo isso e morrendo de chorar só de lembrar. Juro passaria horas aqui escrevendo sobre cada detalhe do caminho. Que sensação gostosa. Sou muito grata de Deus ter me permitido viver e sentir tudo isso.

19. Participaste em alguma celebração ou evento cultural ao longo do Caminho? Como foi essa experiência?
Não tive essa sorte, mais seria incrível poder participar. Mais cada cidade, cada vilarejo vão ficar guardados pra sempre no meu coração.

20. Se tivesses que descrever o Caminho em três palavras, quais seriam?
Orgulho, Determinação, Leveza

21. Tens planos de fazer o Caminho novamente ou explorar outras rotas?
Quero fazer todos os anos uma rota diferente. E repetir as rotas também. Porque tenho certeza que mesmo que a rota seja igual os sentimentos e sensações vão ser diferentes.


"A Caminho" com a Desirrê

O Caminho não se faz. Vive-se. Foi com esta certeza que Desirrê partiu sozinha de Valença do Minho rumo a Santiago e depois a Finisterre. Em 10 dias e 232 km, viveu uma jornada de superação, fé, dor, cura e reencontro consigo mesma. A cada etapa, uma descoberta. A cada desafio, uma transformação. Do chinelo improvisado ao milagre inesperado, do prato com sabor a vitória ao silêncio que revelou o essencial, encontrou no Caminho muito mais do que paisagens de tirar o fôlego. Encontrou força, leveza e orgulho. Nesta entrevista, partilha connosco os momentos que a marcaram, as aprendizagens que leva para a vida e a certeza de que o Caminho não termina no km 0, ele começa dentro de nós.

"A Caminho" com a Filipa

Há caminhos que não se percorrem apenas com os pés, percorrem-se com o coração aberto, com a alma em escuta e com a coragem de quem se deixa transformar. Entre trilhos verdes, silêncios que abraçam e encontros improváveis, há uma viagem que começa muito antes do primeiro passo e continua muito depois da última chegada. A Filipa partilhou connosco a sua travessia: feita de bolhas e beleza, de resiliência e fé, de pic-nics no meio da natureza e muralhas de pedrinhas que contam histórias esquecidas. Foi ela quem preencheu este testemunho com verdade e emoção, e é impossível não sentir o eco da sua jornada em cada resposta. Lê o artigo e deixa-te levar. 🌿

"A Caminho" com o Grupo de Jovens da Camacha

Nem sempre sabemos quando começa o verdadeiro caminho. Às vezes é numa conversa entre amigos, noutras num desejo que cresce devagar. Para o Grupo de Jovens da Camacha, foi uma vontade partilhada feita de fé, amizade e vontade de ir mais longe. Este caminho ganhou forma entre passos dados em grupo, dores partilhadas e silêncios que dizem tudo. Foi preciso coragem para partir, resiliência para continuar, e coração aberto para encontrar sentido em cada gesto, cada abraço, cada desafio. Não foi só uma peregrinação foi uma travessia interior, onde cada etapa trouxe descobertas e cada chegada foi também um recomeço. Lê o artigo completo e deixa-te levar. Talvez o teu caminho também comece aqui.

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