Nem sempre sabemos quando começa o verdadeiro caminho. Às vezes é numa conversa entre amigos, noutras num desejo que cresce devagar. Para o Grupo de Jovens da Camacha, foi uma vontade partilhada feita de fé, amizade e vontade de ir mais longe. Este caminho ganhou forma entre passos dados em grupo, dores partilhadas e silêncios que dizem tudo.
Foi preciso coragem para partir, resiliência para continuar, e coração aberto para encontrar sentido em cada gesto, cada abraço, cada desafio. Não foi só uma peregrinação foi uma travessia interior, onde cada etapa trouxe descobertas e cada chegada foi também um recomeço.
Lê o artigo completo e deixa-te levar. Talvez o teu caminho também comece aqui.
1. O que te motivou a fazer o Caminho?
Enquanto Associação de Jovens cristãos, sentíamos que uma experiência como Peregrinos era algo que teria de fazer parte da nossa história. Com o passar dos anos e com o crescimento do Grupo, tentamos proporcionar aos nossos jovens atividades cada vez mais enriquecedoras e diferentes, que talvez de outra forma não as fariam. Por ser uma experiência alinhada com os nossos valores, e motivados pelos muitos e bons frutos com que retornaríamos a casa, a nível de desenvolvimento pessoal e coletivo, decidimos que era hora de dar o primeiro passo 💪🏻
2. Quanto tempo passou entre decidires e começares o Caminho?
7 meses. Foi decidido em Dezembro de 2024 e começámos o Caminho no dia 11 de Julho de 2025.
3. Que caminho escolheste e porquê?
Optámos por fazer o Caminho Central Português, não só por ser aquele que mais ouvimos falar, mas também por, sendo uma primeira vez, considerarmos que seria o mais adequado.
4. Quantos dias demoraste?
5 dias.
5. Que etapas fizeste e quais foram as mais marcantes?
Etapa 1: Tuí – Mos Etapa 2: Mos – Pontevedra Etapa 3: Pontevedra – Caldas de Reis Etapa 4: Caldas de Reis – Escravitude Etapa 5: Escravitude – Santiago de Compostela Houveram duas etapas que consideramos as mais marcantes. A primeira foi a 2.ª Etapa, onde os 32km pareciam nunca mais acabar. O cansaço veio ao de cima, e com ele trouxe dores nas pernas, feridas nos pés e emoções difíceis de gerir. A outra foi a 5.ª e última etapa, o dia da chegada a Santiago. O sentimento de chegar à meta, após 5 dias desafiantes a nível pessoal e de grupo, e relembrar tudo o que vivemos e superámos, é arrebatador e simplesmente inexplicável.
6. Como te preparaste física e mentalmente para o Caminho?
A preparação física, em grupo, consistiu em percorrer algumas das mais conhecidas (e não só) Levadas da Ilha da Madeira, onde residimos. Estas atividades foram úteis não apenas para treino físico, mas também para percebermos a dinâmica e as necessidades do grupo ao longo dos vários kms. Além disso, também fomos experimentando o material que viríamos a utilizar na peregrinação, como os bastões e calçado, como forma de nos habituarmos. Individualmente, cada membro também fez a sua preparação física, através de caminhadas e/ou práticas desportivas. A preparação mental baseou-se naquilo que fomos lendo sobre o caminho, nas experiências de conhecidos, que nos ajudaram a gerir expetativas sobre o que esperar e o que encontraríamos no Caminho. Além disso, nos dias anteriores ao início do Caminho, tivemos uma dinâmica espiritual com a Ir. Conceição, que nos p(reparou) o coração para encontrar Deus, o Outro, e o Eu, no caminho, de uma forma muito harmoniosa e sem nunca deixar um dos 3 para trás.
7. Fizeste o Caminho sozinho ou acompanhado? Se acompanhado, com quem?
Fizemos em grupo, a Associação Grupo de Jovens da Camacha – AGORA, no qual participaram 12 dos nossos jovens.
8. Qual foi o momento mais desafiante?
O momento mais desafiante foi quando tivemos que continuar o Caminho sem alguns dos nossos membros, por questões de saúde e sobre as quais não tínhamos qualquer controlo. Enquanto Grupo, um dos grandes objetivos era começarmos e terminarmos todos juntos, procurando fazer tudo o que estivesse ao nosso alcance para que nunca ninguém ficasse para trás, mesmo que isso implicasse andarmos ao ritmo do mais lento. Deixar alguém para trás teve um impacto muito grande no espírito do grupo, e foi preciso muito esforço para recuperar o ambiente leve e descontraído.
9. Houve algo que te surpreendeu durante o caminho?
Sim! A simpatia dos moradores das diferentes zonas, que mostravam interesse e ficavam felizes com a nossa passagem. Diziam palavras encorajadoras para o nosso Caminho, como um simples “Buen Camino” e um sorriso.
10. Qual foi a melhor refeição que tiveste no caminho?
O último jantar, feito pelo Sr. Elias do Lagar de Jesus. Preparou-nos um churrasco brasileiro, e a alegria e entusiasmo ao receber-nos não ficou indiferente a nenhum de nós. Foi muito acolhedor e tratou-nos realmente como uma família.
11. Onde encontraste a melhor estadia ao longo do percurso?
No Lagar de Jesus, em Escravitude, pela forma calorosa com que fomos recebidos. No entanto, não há razão de queixa a nível dos albergues que ficámos, estamos satisfeitos com todos.
12. Conheceste alguém que te marcou?
O Sr. Elias do Lagar de Jesus. Que nos acolheu muito bem no seu albergue.
13. O que não pode faltar na mochila de um peregrino?
Tendo em conta a nossa experiência, diríamos que uma agulha e spray de gelo 😬 Numa vertente menos literal, muita vontade de superação e altruísmo.
14. Como te sentiste ao chegar a Santiago?
A nossa chegada a Santiago foi um momento de grande emoção e gratidão. É difícil colocar em palavras a forma como os últimos passos se fazem sentir. É quase como um balão de emoção que se vai enchendo a cada passo dado nas ruas anteriores à Catedral e, quando a vemos pela primeira vez, simplesmente explode.
15. Tens alguma música que marque o teu caminho para acrescentarmos à nossa playlist?
Sim, “Oceans” . Cantámos esta música numa Igreja em Caldas de Reis, no meio de lágrimas e muita emoção, mas de uma forma que realmente saiu do coração…quase como um pedido, muito sentido, a Deus.
16. Se só pudesses dar uma dica às pessoas que estão a pensar fazer o caminho, qual seria?
Se pudéssemos dar uma dica, seria para não terem pressa e distribuírem o caminho por mais dias. Que disfrutem do caminho e aproveitem também os sítios onde passam. Este Caminho é muito muito mais do que só chegar ao fim. O verdadeiro caminho acontece dentro de cada um de nós. “Segue as setas, o caminho vem até ti!”
17. Houve alguma aprendizagem ou mudança pessoal que tenha resultado da experiência?
Ainda estamos numa fase de assimilação de tudo o que esta experiência nos trouxe, a nível pessoal e de grupo. No entanto, consideramos que todos ganhámos melhor noção da importância do outro no nosso caminho. Seja no conforto do silêncio, no calor de um abraço, ou na alegria que o outro nos pode proporcionar. Muitos passos foram dados não com a força que cada um tinha nos seus pés, mas com a força que um companheiro é capaz de proporcionar.
18. Após completares o Caminho, sentes que a experiência correspondeu às tuas expectativas iniciais? De que maneira?
Não, houveram muitas coisas que nos puseram “à prova” ao longo do caminho. Mas hoje, ao olharmos para trás, somos gratos por termos conseguido chegar ao fim e sabemos que – “Um coração que agradece é o coração que encontrou o caminho.”
19. Participaste em alguma celebração ou evento cultural ao longo do Caminho? Como foi essa experiência?
Sim, participámos na Missa do Peregrino, em Santiago. Consideramos que, após a grande chegada, foi um momento de grande introspeção e revivência daquilo que tinham sido os últimos dias. Isto, somado à grandeza e ao sentimento que se vive dentro daquela Catedral, fez com que tudo tivesse um significado muito maior.
20. Se tivesses que descrever o Caminho em três palavras, quais seriam?
Desafiante; Inesperado; Inspirador.
21. Tens planos de fazer o Caminho novamente ou explorar outras rotas?
Sim. Acho que este Caminho deixou vontade, e também a experiência, para numa próxima fazermos algumas coisas de forma diferente.