“A Caminho” com o Filipe

Há quem descubra o Caminho por livros, outros por histórias ou documentários. O Filipe descobriu-o ao vivo, nas férias em Moledo, ao ver peregrinos passarem com o olhar focado e a mochila às costas. A curiosidade transformou-se em vontade, e a vontade num primeiro passo.

O que começou como uma caminhada junto ao mar tornou-se num ritual de liberdade, comunhão e descoberta pessoal. Entre quedas inesperadas, encontros marcantes e almoços triunfais, Filipe aprendeu que o Caminho não se faz só com os pés, faz-se com o coração aberto.

E é isso que partilha nesta entrevista.


1. O que te motivou a fazer o Caminho?
Costumo gozar uns dias de férias em Moledo do Minho, junto a Caminha e quando estou lá, vejo pessar muitos peregrinos. Comecei-me a informar sobre o tema. Para além disso, tenho um irmão que já tinha feito o Caminho e a sua experiência tinha sido extremamente positiva. No dia 2 de outubro de 2021, iniciei na Sé do Porto o meu primeiro Caminho – Caminho Português da Costa.

2. Quanto tempo passou entre decidires e começares o Caminho?
Dois meses, nas minhas férias, em agosto.

3. Que caminho escolheste e porquê?
Caminho Português da Costa. Parte da minha cidade, o Porto e grande parte do trajeto é feito junto ao mar, que eu adoro. Para além disso, passa em Moledo.

4. Quantos dias demoraste?
12 dias

5. Que etapas fizeste e quais foram as mais marcantes?
Porto – Angeiras – A Ver o Mar – Esposende – Viana do Castelo – Caminha – Porto Mougás – Vigo – Redondela – Ponte Vedra – Caldas de Reis – A Escravitude – Santiago de Compostela

A primeira e a última etapa foram as mais marcantes.
– A etapa Porto – Angeiras: por serem os meus primeiros passos no Caminho, de mochila às costas, ainda cheio de precauções, a medir as sensações e o esforço físico. Passei por muitos lugares que me são familiares, mas naquele momento tinha a perspetiva de um peregrino, de mochila, que caminhava pela primeira vez para Santiago. Foi a primeira vez que ouvi desconhecidos a desejarem-me um caloroso e encorajante “Bom Caminho”. Recordo-me de chegar a Angeiras, cheio de alegria por ter terminado e sobrevivido à minha primeira etapa, entrando no restaurante Filipe para almoçar, a uma hora tardia. Que bem me soube aquele almoço! Um almoço triunfal 🙂

A etapa A Escravitude (uns quilómetros a seguir a Padrón) – Santiago de Compostela – por ser a última etapa. Saí ainda de madrugada, de noite. Por momentos, por estar mesmo de noite e não se ver nada, perdi-me num bosque, mas depois lá reencontrei o Caminho. Pelo meio, encontrei um Peregrino italiano que me acompanhou até Santiago. Partilhou comigo um pouco da sua muito interessante história de vida durante a pandemia. No final, ao chegar a Santiago, senti uma emoção indescritível, que continuo a sentir sempre que termino um Caminho.

6. Como te preparaste física e mentalmente para o Caminho?
Em termos físicos, faço muitas caminhadas, mais longas aos sábados e domingos de manhã ou mais curtas ao final da tarde dos dias da semana. Tenho uma eléptica, que comprei na pandemia, que também me ajuda bastante a manter a forma física, principalmente no inverno, nos dias frios e chuvosos. Na minha mesinha de cabeceira tenho sempre um creme amaciador para os pés, que coloco todos os dias. Nos dias de caminhada, de manhã, para não humedecer os pés, não tomo banho. Nesses dias, antes de calçar as meias de caminhada, encho os pés com uma dose muito generosa de vaselina. Até agora quase que nunca tive bolhas. Acho que mentalmente não é necessária preparação – cada passo coloca Santiago mais próximo e isso é a minha motivação. A alegria de partir para uma nova aventura também me motiva.

7. Fizeste o Caminho sozinho ou acompanhado? Se acompanhado, com quem?
Gosto sempre de começar cada Caminho sozinho, sem preocupações, sem nenhum compromisso. Deixo que o convívio com os outros peregrinos se proporcione ao longo do mesmo. Cada início do dia, sou livre para criar a minha agenda.

8. Qual foi o momento mais desafiante?
Dois momentos: – Nos primeiros dias do meu Caminho, descobri que as botas que calçava eram pequenas. Estava já a ter problemas nas unhas. Ao fim da terceira etapa, ao chegar a Esposende, concluí que, ou arranjava umas botas maiores ou terminava ali o Caminho. A minha sorte foi ter conseguido fazer a compra de umas botas maiores numa loja online, que fez a entrega em minha casa, no Porto, passado uma hora. Como no dia seguinte era feriado, na manhã desse dia, um dos meus irmão levou-mas até Esposende, onde estava alojado. – À entrada de Vigo, junto à fábrica da Citroen, há um caminho estreito, com um fosso cheio de vegetação ao lado, 1 metro abaixo, em toda a extensão. São cerca de 200 metros. A caminhar, a certa altura, coloquei o pé numa zona de raízes a pensar que era terra firme, desequilibrei-me e caí completamente desamparado lá em baixo. A minha sorte foi ter aterrado numa cama de vegetação, sem nenhum dano físico. Para além do enorme susto, como estava sozinho, voltar a subir para o caminho foi-me mesmo bastante difícil.

9. Houve algo que te surpreendeu durante o caminho?
No início, fiquei surpreendido com a disponibilidade de partilha e espirito de entreajuda da maior parte dos Peregrinos.


10. Qual foi a melhor refeição que tiveste no caminho?
Para além da minha primeira refeição no Caminho, que já referi, no restaurante Filipe, em Angeira, foi no restaurante O Muiño, em Caldas de Reis. Trata-se de um restaurante muito simpático, junto ao rio, com esplanada, em que se pode fazer um almoço à base de pinchos/tapas. Depois de concluir a etapa Pontevedra – Caldas de Reis, nada melhor do que usufruir daquele belo espaço, experimentando a saborosa gastronomia da Galiza.

11. Onde encontraste a melhor estadia ao longo do percurso?
Nos meus primeiros dois Caminhos, fiquei em hoteis e pensões. Uma forma de estada que agora desaconselho. O Caminho é partilha e o espírito de partilha encontra-se essencialmente nos albergues, com cama em dormitório, com convivio. Procuro sempre dormir em albergues com ceias comunitárias.

12. Conheceste alguém que te marcou?
Conheci muita gente que me marcou. O Caminho é comunhão, com aquilo que damos e os outros nos dão. Ouvi confidências muito pessoais. Fiquei a conhecer muitas experiências de vida, que me ajudaram a ser melhor e a ter mais tolerância com os outros.

13. O que não pode faltar na mochila de um peregrino?
Em sentido figurado, um coração aberto para dar e receber. Em sentido literal, apenas o vestuário estritamente essencial, para que os passos se tornem os mais leves possível.

14. Como te sentiste ao chegar a Santiago?
Sempre que chego a Santiago, na conclusão de um Caminho, sinto uma emoção indescritível. Choro de alegria. Acho que a Praza do Obradoiro deve ser o local mais feliz da terra, atendendo à quantidade de Peregrinos que lá chegam e à alegria do momento.

15. Tens alguma música que marque o teu caminho para acrescentarmos à nossa playlist?
Quando faço o Caminho gosto que os meus ouvidos estejam livres para a envolvente e para os sons da natureza que me rodeia.

16. Se só pudesses dar uma dica às pessoas que estão a pensar fazer o caminho, qual seria?
Partir com o coração aberto para dar e receber.

17. Houve alguma aprendizagem ou mudança pessoal que tenha resultado da experiência?
Com o meu primeiro Caminho, descobri que esse espaço muito pessoal e independente complementa a minha vida. Preciso e dependo dele.

18. Após completares o Caminho, sentes que a experiência correspondeu às tuas expectativas iniciais? De que maneira?
Ultrapassou completamente as minhas expetativas iniciais, conforme já referido na minha resposta à pergunta anterior.

19. Participaste em alguma celebração ou evento cultural ao longo do Caminho? Como foi essa experiência?
Chegar a Santiago e assistir na Catedral à missa do peregrino, todos os dias às 12h, é para mim uma experiência muito gratificante. É a conclusão do Caminho. No meu primeiro Caminho, tive a sorte de assistir ao Botafumeiro.

20. Se tivesses que descrever o Caminho em três palavras, quais seriam?
Natureza, Liberdade e Comunhão.

21. Tens planos de fazer o Caminho novamente ou explorar outras rotas?
Em 2022 fiz o Caminho Português Central, desde a cidade do Porto, até Muxia e Finisterra. Nesse mesmo ano fiz ainda o Caminho Inglês, desde Ferrol. Em 2023, fiz o Caminho Francês, desde os pirineus. Em 2024, fiz de novo o Caminho Português da Costa e a primeira parte do Caminho Norte, desde a fronteira de França com Espanha, até Avilés. Este ano, em junho, tenciono concluir esse Caminho.


"A Caminho" com o Filipe

Há quem descubra o Caminho por livros, outros por histórias ou documentários. O Filipe descobriu-o ao vivo, nas férias em Moledo, ao ver peregrinos passarem com o olhar focado e a mochila às costas. A curiosidade transformou-se em vontade, e a vontade num primeiro passo. O que começou como uma caminhada junto ao mar tornou-se num ritual de liberdade, comunhão e descoberta pessoal. Entre quedas inesperadas, encontros marcantes e almoços triunfais, Filipe aprendeu que o Caminho não se faz só com os pés, faz-se com o coração aberto. E é isso que partilha nesta entrevista.

"A Caminho" com o Carlos

Às vezes, basta uma conversa de café para mudar o rumo dos nossos passos. Foi assim que o Carlos, sem grandes planos nem expectativas, decidiu embarcar no Caminho de Santiago. O que começou como um desafio físico entre amigos, rapidamente se transformou numa experiência de superação, descoberta e reconexão. Entre bolhas, chuva e jantares memoráveis, o Caminho revelou-se um espelho, e Carlos aprendeu que, por vezes, o mais marcante não são os encontros com os outros, mas o reencontro connosco. Lê a entrevista completa e deixa-te inspirar por esta jornada feita de simplicidade, resiliência e transformação. 👣✨

"A Caminho" com a Cristina

Quando a Cristina recusou o convite para fazer o Caminho, talvez nem imaginasse que aquele “não” era, na verdade, o início de tudo. Foi o tempo, a leitura, a escuta e uma vontade silenciosa que se foi instalando aos poucos, até que o medo foi substituído pela coragem e a dúvida pela decisão. Neste testemunho, há natureza e superação, há frustração e descoberta, há silêncio e encontro. Mas sobretudo, há uma mulher a conquistar o seu espaço, passo a passo, num caminho que começadentro e se estende até Santiago, e para lá dele. Lê a entrevista completa e deixa-te motivar por esta força tranquila! ✨🧲

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