O Pedro foi (e é) um peregrino jovem. Com apenas 20 anos fez-se ao percurso a desafio de um amigo. Assim, nesta idade que divide as gerações, teve uma experiência que lhe mostrou a beleza do planeta e das pessoas. Lê esta entrevista completa para te inspirares!
Por que fizeste o caminho de Santiago?
Fiz o Caminho pela primeira vez a desafio de um padre amigo meu em 2016. Na altura tinha 20 anos e encarei como uma maneira diferente de passar as férias de Carnaval em forma de peregrinação.
Quantos dias demoraste?
Demorei 6 dias
Que etapas fizeste?
Oia – Baiona > Baiona – Vigo > Vigo – Pontevedra > Pontevedra – Caldas de Reis
Caldas de Reis – Padrón > Padrón – Santiago
Por que começaste de Oia?
Começámos em Oia pelos dias que tínhamos disponíveis para fazer o Caminho. Na altura o trajeto foi todo programado pelo padre que é meu amigo. Mas devo dizer que é um sítio muito tranquilizante e bonito para se começar o Caminho. Toda aquela beleza e quietude dá uma paz de espírito para começar bem.
Qual foi a melhor refeição do caminho?
A melhor refeição que tive do Caminho veio de uma história caricata. Estávamos a chegar a Caldas de Reis a um Domingo e não tínhamos reservado qualquer albergue, visto ser uma altura de poucos peregrinos. Acordámos em encontrar um albergue que ficasse em conta e depois ir almoçar. Encontrámos o Albergue Timonel e perguntámos à senhora que estava a tomar conta do espaço onde poderíamos ir almoçar. Ela diz com uma cara de quase aflição que não havia nenhum espaço aberto para comer aquela hora. Foi então que a senhora com muito amor partilhou connosco as refeições que tinha preparado para ela. Uma refeição muito simples, mas que valeu por todas as outras mais compostas que comi durante o caminho.
Lembras-te do que comeste?
Se me lembro. Era uma sopa , do tipo das nossas misturadas aqui em Portugal. Uma refeição muito simples como tinha dito mas, que nos aconchegou a barriga e a alma naquele dia. A senhora acabou depois por nos lavar a roupa e secar sem nos cobrar nada. Sem dúvida uma alma caridosa.
Como te preparaste fisicamente para o caminho?
Na altura, com 20 anos e habituado a caminhar todos os dias, limitei-me a 15 dias antes do início fazer de 2 em 2 dias uma caminhada maior de cerca de 10km para me ambientar ao calçado e ao peso da mochila (metendo alguns pesos dentro dela para simular a carga que iria levar).
O que te deixou mais surpreendido no trajeto?
O que me surpreendeu mais para além de ver pessoas de todas as idades foi, encontrar pessoas de várias regiões do mundo e crenças que por uma outra razão estavam ali a fazer o mesmo que eu.
Qual foi o momento mais difícil?
O momento mais difícil foi uma lesão que tive no joelho na etapa Vigo – Pontevedra. Tínhamos partido cedo de Vigo e à saída da cidade começámos logo com uma subida íngreme com uma extensão grande. Como o corpo ainda não tinha aquecido o suficiente comecei a meio da subida a sentir grandes dores no joelho e quando cheguei ao topo tinha dores horríveis no joelho. Eram tão intensas que comecei a chorar porque pensava que iria ficar por ali e que não iria terminar o caminho. Foi aí que comecei a rezar o terço e a pedir a Nossa Senhora que me ajudasse. Aí as dores acalmaram e consegui continuar até à farmácia mais próxima para comprar um joelho elástico e algo mais forte para tomar por causa das dores.
Quem é que conheceste no caminho que nunca vais esquecer?
As pessoas que foram comigo na peregrinação nunca mais esquecerei. Mas uma delas marcou-me muito intensamente e fiquei muito amigo dela e ainda hoje passados estes anos todos ainda falamos algumas vezes por ano. São dias em que se consegue conhecer pessoas que nos marcam para o resto da vida. Há muito tempo para falar e conhecer o outro.
Podes falar-nos mais dessa pessoa?
Na altura essa pessoa tinha perdido o marido recentemente, e o meu amigo aconselhou-a a vir connosco. Era uma maneira de certa forma fazer um pouco do luto que estava a passar. Ela tem um filho com uma idade similar à minha e acabou por ser isso que nos uniu. Ali naquela caminhada era como se eu fosse filho dela e ela fosse a minha mãe.
Passávamos muito tempo à conversa mesmo quando não era combinado. Durante a peregrinação tínhamos uma dinâmica que era fazer grupos de 2 e íamos a falar uns com os outros sobre as nossas vidas, isto para fomentar o conhecimento entre as pessoas.
Mas acabávamos quase sempre por falar muito mesmo quando não estávamos aos pares.
É das melhores pessoas que conheço. Muito amiga, sempre prestável e muito boa conselheira e ouvinte. Também não lhe falta simpatia, o que faz com que crie facilmente empatia.
Podia estar aqui a escrever um testamento sobre ela 🙂.
O que não pode faltar na mala de um peregrino?
Na mala de um peregrino não pode faltar: Kit de primeiros socorros, Voltaren, paracetamol e uma bolsa de água de 1L/2L para manter a hidratação durante o dia. O resto é o básico de roupa e calçado. Manter a mala o mais leve possível é essencial.
Se só pudesses dar uma dica às pessoas que estão a pensar fazer o caminho, qual seria?
Para as que acreditam em Deus como eu, digo que Deus está sempre ao nosso lado e não nos deixa vacilar. Para as que não são ligadas à religião digo que o Caminho faz-se mais depressa ou mais devagar e que se consegue sempre alcançar o final.
Mas para todos, o terminar do caminho não é o fim, é simplesmente o início de algo que vamos querer repetir mais e mais.
Qual foi a tua reação quando chegaste a Santiago?
Quando cheguei a Santiago, simplesmente senti um alívio ou uma paz de espírito. Via muitas pessoas a chorar de felicidade, mas eu fiquei a contemplar a Catedral. Talvez porque as minhas lágrimas já tivessem sido todas largadas uns dias antes Hahahaha.